Smithsonian. Trump ordena remoção de "ideologia imprópria" dos principais museus dos EUA

por Carla Quirino - RTP
Foto: Leah Millis - Reuters

O presidente norte-americano tem planos para controlar o Instituto Smithsonian e remover as narrativas usadas nas exposições dos museus nacionais que classifica como ideologia "anti-americana corrosiva". Esta ordem está expressa no decreto da Administração Trump anunciado na quinta-feira e tem como alvo o maior complexo de museus do mundo. O Smithsonian será proibido de "sediar ou financiar exposições que degradem os valores americanos".

Uma das ordens executivas da Administração de Donald Trump assinadas na última quinta-feira tem como título “Restaurar a Verdade e a Sanidade na História Americana” e visa o Instituto Smithsonian, com sede em Washington, DC.

Nesta medida, Trump quer alterar as narrativas "distorcidas" usadas nos museus e para isso colocou o vice-presidente JD Vance como responsável por supervisionar os procedimentos necessários para implementar as alterações. 

De acordo com a ordem, as mudanças visam “restaurar o Instituto Smithsonian e colocá-lo no caminho certo para se apresentar como um símbolo de inspiração e grandeza norte-americana”.

Para o presidente, na última década, "houve um esforço concertado e generalizado” para reescrever a história dos EUA, substituindo “fatos objetivos” por uma “narrativa distorcida, impulsionada pela ideologia em vez da verdade”.

“Nos últimos anos, o Smithsonian tem sofrido a influência de uma ideologia que causa discórdia e é centrada na raça”, afirma a ordem executiva. Vance tem agora que "eliminar ideologia imprópria" dos museus da instituição.

O Instituto Smithsonian contempla o maior complexo de museus do mundo. Tutela 21 museus individuais, o Zoológico Nacional e ainda diversos centros de investigação e de educação. O Museu Nacional de História Natural e o Museu Nacional de História Americana estão entre os mais conhecidos.
Proibir e controlar

Trump aponta o dedo às exposições patentes no Museu de Arte Americana e no Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana. Destaca este último, onde uma exposição “afirma que os Estados Unidos 'usaram a raça para estabelecer e manter sistemas de poder, privilégio e privação de direitos'”.

Alega que a narrativa do Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana “promove a visão de que raça não é uma realidade biológica, mas uma construção social” e discorda sobretudo com a frase: “A Raça é uma invenção humana”.

O presidente norte-americano não quer mais ver exemplos como os dessas exibições porque as considera “prejudiciais e opressivas”.

“Os museus na capital da nossa nação devem ser lugares onde os indivíduos vão para aprender – não para serem submetidos a doutrinação ideológica ou narrativas que causam discórdia e que distorcem a nossa história”, lê-se no texto.

A ordem executiva impõe que o Smithsonian seja proibido de sediar ou financiar exposições que “degradem os valores americanos compartilhados, dividam os americanos com base na raça ou promovam programas ou ideologias inconstantes com a lei e a política federal”.

O Museu de História das Mulheres, que ainda está em construção, tem planos para "reconhecer homens como mulheres" mas já recebeu o sinal vermelho de Trump para qualquer exposição que celebre mulheres trans.

E acrescenta:“É política da minha Administração restaurar locais federais dedicados à história, incluindo parques e museus, para monumentos públicos solenes e edificantes que lembram os americanos da nossa herança extraordinária, progresso consistente em direção a nos tornármos uma União mais perfeita e histórico incomparável de avanço da liberdade, prosperidade e florescimento humano”.

Vance foi orientado a trabalhar com o Congresso na Câmara e no Senado para nomear novos membros cidadãos para o Conselho de Regentes do Smithsonian que estarão “comprometidos em promover a política desta ordem”.

De acordo com a agência Associated Press, os representantes do Smithsonian ainda não reagiram à ordem executiva.
Moldar a cultura

Esta ação para controlar o Smithsonian não é a primeiro dirigido a instituições culturais.

Em fevereiro, o presidente Trump nomeou-se a si próprio para supervisionar as medidas que iriam reformular a programação do John F. Kennedy Center for the Performing Arts em Washington, DC.

Desde que esta Administração tomou posse em janeiro, Trump tem revertido políticas que existiam de apoio à “diversidade, equidade e inclusão” - conhecidas pela sigla DEI - defendidas pelo antecessor presidente Joe Biden.

A ordem executiva pede ainda a restauração de “locais federais dedicados à história, incluindo parques e museus”. Deverão por isso regressar ao espaço publico norte-americano centenas de monumentos e símbolos retirados desde 2020, "para perpetuar uma falsa revisão da história ou minimizar ou menosprezar indevidamente certas figuras ou eventos históricos", sustenta a ordem executiva.

É o esforço de Trump em moldar a cultura norte-americana, para além da política, insitindo que foi contaminada pela ideologia de esquerda "woke". O termo tornou-se sinónimo de políticas liberais ou de esquerda, que defendem temas como igualdade racial e social, feminismo.

O Instituto Smithsonian foi criado com fundos de James Smithson, um cientista britânico, tendo sido estabelecido por um ato do Congresso em 1846 como um instrumento federal independente com a missão para "o aumento e a difusão do conhecimento".
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